Aqui em Mesquita, estamos homenageando este ano o Rei do Baião, o Lua Luiz Gonzaga. Abaixo, uma matéria bacana da revista para nosso deleite e aprofundamento.
O baião de Luiz Gonzaga na sala de aula
No centenário do nascimento de Luiz Gonzaga, faça a turma dançar e se encantar com o ritmo nordestino que ganhou o País e há mais de 60 anos influencia a MPB
O valor de um nordestino
A música de Gonzagão: alma do sertão
Como na maioria das canções populares, as temáticas recorrentes na obra de Luiz Gonzaga são o amor e a saudade. Só que em suas composições, a separação é motivada pela seca, como em seu maior sucesso Asa Branca: "Quando o verde dos teus oio / Se espalhar na prantação / Eu te asseguro não chore não, viu / Que eu voltarei, viu / Meu coração".
O drama do retirante aparece com fortes elementos de crítica social e de protesto, sobretudo, nas músicas em que contou com a parceria de Zé Dantas, como em Vozes da Seca: "Seu doutô os nordestinos / Têm muita gratidão / Pelo auxílio dos sulistas / Nesta seca no sertão / Mas doutô uma esmola/ A um home qui é são / Ou lhe mata de vergonha / Ou vicia o cidadão".
Outro exemplo de crítica é A Triste Partida: "Faz pena o nortista / Tão forte, tão bravo/ Viver como escravo / No Norte e no Sul", resultado do encontro da música com a poesia. A gravação de Luiz Gonzaga contribuiu para impulsionar a divulgação da obra do poeta cearense Patativa do Assaré, outro ícone da cultura nordestina.
Além da temática da seca e da pobreza, o sanfoneiro atribuiu outras imagens e símbolos ao sertanejo. São muitas as músicas em que está presente a poesia, a alegria, a dedicação ao trabalho, a bravura, a beleza e a coragem do povo nordestino. "Com isso, ele faz uma reinterpretação do nordeste e do sertão", explica Sulamita.
Em suas apresentações o rei do baião reagrupou artefatos e um conjunto de símbolos da cultura nordestina. A partir de 1953, o sanfoneiro passou a usar o chapéu de couro e roupas inspiradas em Lampião. Na biografia Vida do Viajante: A Saga de Luiz Gonzaga, a jornalista francesa Dominique Dreyfus conta que a inspiração veio do músico Pedro Raimundo, que se apresentava com roupas típicas de gaúcho.
Gilberto Gil, Em diversas entrevistas, se recorda do primeiro grande show que assistiu foi de Gonzaga, quando tinha apenas 11 anos de idade e afirma que estava diante de um grande astro pop, com suas músicas inigualáveis, seu figurino, suas sanfonas, seus músicos.
O trabalho com o ritmo e com a dança em sala de aula
A obra do sanfoneiro é tema essencial nas aulas de música. André Hosoi, músico, coordenador pedagógico do grupo Barbatuques e professor do colégio Vera Cruz, em São Paulo, explica como o assunto é trabalhado em suas aulas: a primeira coisa é fazê-los dançar, pois "quando o corpo entende, a compreensão sobre o ritmo ocorre de forma muito mais natural". Os alunos podem - e devem - não só estudar a história desse gênero, como também aprender a tocá-lo. Com os ouvidos atentos e orientação do professor é possível entender o papel de cada instrumento no Baião: a sanfona tem a função harmônica e melódica, já a base rítmica é formada pelo zabumba, que marca o tempo, e pelo o triângulo, no contratempo.
O professor explica que é preciso escolher bem o repertório para que os alunos conheçam a diversidade e riqueza das músicas do rei do baião. Por isso não deixa de tocar os xotes: Riacho do Navio e Sala de Reboco, o arrasta-pé de Vem Morena ou de Pagode Russo, nem mesmo o baião lento do próprio Baião ou ainda uma versão mais rápida como Respeita Januário.
FONTE: Revista Nova Escola